A luz artificial é prejudicial à saúde? Não, quando bem planeada!
Por certo já terá terminado um dia de trabalho com uma sensação de secura nos olhos e dores de cabeça. Estes sintomas são muitas vezes associados aos longos períodos de tempo que passamos em frente a ecrãs, ou seja, em frente a um dispositivo emissor de luz artificial.
No nosso dia-a-dia, para além de despendermos bastante tempo a olhar para ecrãs, estamos frequentemente em ambientes iluminados por luz artificial. E esta, apesar de não incidir de forma tão direta nos nossos olhos, vai ser determinante no nível de esforço necessário para a visão se adaptar ao espaço.
Neste artigo vamos descobrir de que modo a luz artificial pode ser prejudicial à nossa saúde, desde as dores de cabeça e encadeamento às alterações de sono.
O que é a luz artificial?
Possivelmente não nos apercebemos do quão presente está a luz artificial no dia-a-dia, e não nos referimos apenas ao período noturno. Mesmo durante o dia, edifícios de escritórios, escolas, hospitais e supermercados mantêm as luzes acesas.
A luz artificial é composta por dois tipos de radiação: a ultravioleta (radiação UV) e a infravermelha (radiação IV). Em algumas lâmpadas, os níveis de emissão dessas radiações podem chegar a ser prejudiciais.
Alguns tipos de lâmpadas fluorescentes compactas (CFL), utilizadas por longos períodos e a pequenas distâncias, podem expor os utilizadores a níveis de radiação UV perto dos limites aceitáveis para proteger a pele e os olhos.
Em que medida a luz artificial pode ser prejudicial à saúde?
Para garantir a segurança dos diferentes tipos de lâmpadas, estas são testadas e categorizadas em quatro grupos: isentas de risco (RG0), baixo risco (RG1), médio risco (RG2) e risco elevado (RG3).
A maioria das lâmpadas de fácil acesso comercial estão na categoria “RG0” e raras exceções em “RG1”. Por esta razão não existe, à partida, perigo na escolha da lâmpada a aplicar.
Já as lâmpadas de risco médio e elevado só são utilizadas por profissionais e em locais controlados para o efeito. Uma vez que as “RG2” e “RG3” podem mesmo provocar danos nos olhos e na pele.
Por exemplo, a iluminação utilizada nos holofotes de estádios desportivos pode ser prejudicial se estiver a 20 cm de distância, mas o seu uso apropriado, longe dos espectadores, não apresenta qualquer risco para a saúde.
A luz azul
A luz azul é emitida pelo sol e corresponde a um terço da luz visível. Por este motivo, ela faz parte da nossa vida desde sempre. Contudo, atualmente estamos expostos a ela em excesso, nomeadamente através dos dispositivos eletrónicos, luzes LED e fluorescentes.
Esta luz artificial é mais fraca do que a emitida pelo sol, mas acabamos por estar mais tempo em frente a ela e a proximidade aos olhos é muito superior. O que tem levado a uma preocupação relativamente ao impacto negativo que pode ter na saúde.
A luz azul serve essencialmente para regular o nosso ritmo circadiano, ou seja, o “relógio” do nosso corpo e uma das funções mais importantes que detém é a regulação do ritmo sono-vigília (dia/noite). Ou seja, a exposição à luz azul (dia) tem a capacidade de nos deixar mais alerta, melhorar a nossa memória, ajudar ao nosso funcionamento cognitivo e equilibrar o nosso humor.
Os efeitos provocados pela exposição à luz azul, como a alteração do nosso ciclo circadiano e alterações hormonais, são muito mais relevantes para a nossa saúde do que a eventual exposição à radiação UV. Questão que nem se coloca no caso das lâmpadas LED, pois não emitem este tipo de radiação.
A exposição que temos a estes dois tipos de radiação (UV e IF) durante um ano, pode comparar-se, no máximo, à quantidade de radiação à qual estamos expostos numa semana de férias num destino de sol.
Está a utilizar a luz artificial da melhor forma?
Concluímos que o factor fundamental a ponderar, mais do que o nível de risco das lâmpadas (que é praticamente nulo no caso das lâmpadas “normais”), se prende com a quantidade de luz azul que estas emitem.
No entanto, como vimos, a luz azul também pode trazer benefícios ao nosso organismo, designadamente nos casos em que precisamos de estar mais alerta. Assim, o truque consiste em selecionar a tonalidade de luz adequada para os diferentes ambientes e atividades que aí desempenhamos.
A nível doméstico, a tonalidade de luz tem especial influência, principalmente nas divisões de descanso. Por influir no sono, especialmente das crianças, a luz azul deve evitar ser utilizada nos quartos, razão pela qual se recomenda a escolha de tons mais quentes (amarelos), em detrimento de cores mais frias (brancos, com maior presença de azul).
Mesmo escolhendo a temperatura de cor adequada, a luz artificial pode provocar outros efeitos nocivos, como dores de cabeça. Por isso há que ter em atenção a quantidade de luz e proximidade das luminárias ao local onde nos encontramos. Por exemplo, deve evitar-se uma secretária com um monitor de computador e um painel de luz mesmo por cima da mesma.
Existe ainda a possibilidade da luz artificial provocar encadeamento. Por exemplo, os candeeiros suspensos, atualmente muito sugestivos, ou instalações com uma altura de montagem (pé-direito) baixa. Certifique-se de que a escala da divisão suporta a luminária que pretende aí colocar!
Para saber mais sobre a temperatura de cor adequada para cada divisão, recomendamos a leitura do nosso artigo Luz quente ou luz fria: a temperatura de cor.
Rita Valente
Arquiteta