O impacto da iluminação artificial noturna no meio ambiente
Nos últimos anos tem se tornado evidente os impactos que o desenvolvimento da vida humana tem sobre o Planeta. A poluição da água, do ar ou do solo são os tipos mais conhecidos, pois as suas consequências são rápidas e visíveis. No entanto, existem outras, como a poluição luminosa, derivada do excesso de utilização de iluminação artificial noturna nas cidades e nos centros rurais.
No mês passado, o artigo que escrevemos debruçou-se sobre as implicações da luz artificial na saúde. Este mês continuamos a abordar os impactos da iluminação artificial, desta vez no meio ambiente, no sentido de perceber quais as medidas de mitigação a adotar, sem prejudicar o normal funcionamento da sociedade!
A iluminação artificial noturna: benefícios e desvantagens
A iluminação artificial noturna é essencial para o funcionamento dos centros urbanos. Torna as cidades mais belas, evidencia locais específicos e transmite uma sensação de segurança fundamental para que se continuem a desenvolver atividades a qualquer hora.
No entanto, o excesso de utilização de iluminação artificial em horas supostamente de ambiente “escuro” pode significar um risco para a saúde. Os estímulos luminosos “fora de horas” podem interromper ou reduzir o ciclo do sono e, indiretamente, provocar doenças cardíacas como AVC, diabetes e obesidade.
Apesar da iluminação artificial ter um papel essencial no período noturno, a variação claro-escuro é fundamental para o bom funcionamento do nosso organismo e, obviamente, da fauna e flora!
O que é a poluição luminosa?
A poluição luminosa é um dos vários tipos de poluição (água, ar, solos, …), causada pelo grande número de luzes artificiais instaladas, principalmente nas cidades. Tal como os restantes tipos, a poluição luminosa ameaça espécies animais, vegetais e também o Homem!
A quantidade de iluminação artificial instalada nas cidades e utilizada durante o período noturno é muito superior à dos meios rurais e, por isso, tem um impacto de dezenas de quilómetros. Por exemplo, a iluminação da região do Grande Porto, Minho e Guimarães afeta a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.
No entanto, a poluição luminosa não é exclusiva dos centros urbanos já que a iluminação artificial noturna também é utilizada nos centros rurais e estes se encontram muito próximos de ecossistemas onde o impacto do Homem deveria ser quase inexistente.
A poluição luminosa em Portugal
Segundo a SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia), em 2021 Portugal era o pior país da Europa no que toca à poluição luminosa. Os dados podem ser alarmantes, mas podemos começar a reverter os impactos causados a longo prazo.
Como vimos, se as alterações ao sistema claro-escuro implicam com o organismo humano, a ausência de luz é ainda mais fundamental para o normal funcionamento dos ecossistemas.
As espécies noturnas, principalmente as que dependem da escuridão para caçar, alimentar, proteger, guiar, mas também as espécies diurnas, cuja vida se ritma pelo ciclo circadiano, são todas elas influenciadas pelo excesso de iluminação artificial utilizado durante a noite.
Este uso exagerado altera a atividade faunística e, consequentemente, os ecossistemas. Por exemplo, as tartarugas marinhas, quando eclodem do seu ovo, orientam-se pelo reflexo da luz lunar na água para se dirigirem até ao oceano. Com a presença de luz artificial nas proximidades das praias, as crias desorientam-se e podem seguir o percurso contrário.
Dados de satélite revelam já não existir nenhum local em Portugal continental que esteja isento de poluição luminosa, o que coloca em maior risco as regiões de interesse ecológico. Neste sentido, cientistas, jornalistas, arquitetos, entre outros, assinaram uma carta aberta ao governo para reduzir a poluição luminosa em Portugal e “Restaurar a Noite”.
Como minimizar o impacto da iluminação artificial no período noturno?
A influência da iluminação artificial noturna nos ecossistemas depende das espécies, da quantidade de luz, do período de exposição e da quantidade espectral (mais ou menos luz azul presente nas luminárias escolhidas).
Por isso, como não podemos viver na total ausência de iluminação artificial noturna, é importante repensar a forma de iluminar, tendo em conta os dados que o conhecimento científico nos fornece! Algumas das pistas são:
- Procurar desligar a luz supérflua, evitando o desperdício energético (a adoção de sensores de movimento pode ser uma resposta!);
- Adotar medidas particulares nas áreas protegidas, nomeadamente a interdição de luz branca (dar preferência à utilização de luminárias de luz quente/amarela);
- Mudar alguns hábitos e costumes (pequenas alterações no nosso dia-a-dia podem fazer diferença se praticadas por todos!);
- Criar e aplicar legislação e regulamentação própria, elaborada em conjunto com especialistas pluridisciplinares (cooperação entre cientistas, arquitetos, engenheiros, técnicos, …);
- Introduzir planos diretores de iluminação exterior e;
- Valorizar os impactos da poluição luminosa.
Para saber aplicar estas dicas aos seus projetos, recomendamos a leitura de alguns dos nossos artigos relacionados com o tema: A iluminação pública LED, um dinamizador noturno das cidades!, Como planear a iluminação exterior de edifícios históricos? e Iluminação exterior: o jardim fora de horas.
Rita Valente
Arquiteta