Projetar a iluminação na restauração

O projeto de iluminação na restauração é, por vezes, negligenciado, assim como o impacto que poderá ter no sucesso do mesmo. Com este artigo procuramos dar a conhecer alguns aspetos cruciais para conseguir um Lighting Design “no ponto”.

A iluminação em espaços de restauração está fortemente relacionada com a experiência que o cliente tem, com o maior ou menor tempo de permanência e, em última instância, com a probabilidade de regressar. Assim, tendo em conta a sua importância, consideramos que a iluminação deve ser pensada em função do cliente.


Propomos o seguinte exercício: recordar um restaurante do qual gostámos bastante, procurando o maior detalhe na sua decoração. Certamente que a imagem que surge é caracterizada por uma determinada luz-ambiente. Agora, imaginemos o mesmo espaço, mas com uma iluminação completamente diferente, com outras cores, outras temperaturas de luz… Será que parece o mesmo?

À partida a resposta será “não”. Diferentes projetos de iluminação (outras cores, temperatura de cor, ou posicionamento das luminárias) conseguem alterar por completo o ambiente, mesmo que se mantenha a decoração!

O tipo de espaço

A influência da iluminação na restauração inclui também os cafés, bares e pastelarias. Se, de repente, começarmos a listar o último espaço a que fomos de cada uma destas categorias somam-se múltiplos ambientes. E porquê?

A iluminação terá funções diferentes relativamente a cada tipo de espaço! Servir o pequeno-almoço, almoço, lanche ou jantar, implica diferenças de horários e de maneiras de estar que exigem projetos distintos. Ou, no caso de um espaço servir várias refeições, pode fazer sentido planear soluções distintas para o mesmo lugar.

Por exemplo, nos restaurantes de fast-food ou snack-bar de almoço tendencialmente encontramos temperaturas de cor mais frias, iluminação clara e direta. Isto acontece pelo facto de se procurar rotatividade e, por isso, que os clientes permaneçam apenas o tempo suficiente e indispensável.

Num restaurante mais requintado e vocacionado para jantares, procura-se transmitir conforto e segurança. Privilegia-se a iluminação indireta, temperaturas de cor mais quentes, criando um ambiente mais intimista e aconchegante, que leve os clientes a permanecer durante muito mais tempo e a continuar a consumir.

Os diferentes tipos de luz

A luz baixa, preferencialmente para ambientes mais relaxados, mais românticos, incita à permanência, e podemos consegui-la mesmo com iluminação direta, optando por luminárias-foco sobre a mesa com controladores de intensidade.

Mas há que ter em conta que será necessário considerar uma luz ambiente que permita complementar a luz baixa para a execução de tarefas básicas, como ler a carta ou prestar o serviço. Aqui optamos por uma luz ambiente indireta recorrendo, por exemplo, a sancas.

Por outro lado, a luz intensa provoca um maior estímulo, deixa-nos alerta e com mais energia. Esta pode ser usada em cafés ou restaurantes familiares. Pode ser conseguida através de grandes janelas, privilegiando a iluminação natural (já que estes espaços tendem a funcionar durante o dia) ou através de luminárias com elevado fluxo luminoso.

Temos ainda uma categoria especial, a luz direcionada. Esta poderá ser utilizada para iluminar locais específicos, como a entrada, o bar, ou determinados elementos como quadros com o menu ou uma peça decorativa.

Qualquer uma das três pode ser conseguida através de diferentes tipos de luminárias. Sabendo qual o tipo de luz, em função do que pretendemos e o que vamos iluminar, então podemos dar largas ao projeto decorativo e começar a escolher entre apliques de tecto, spots, sancas, pendentes, apliques de parede…

Luz para diferentes horas do dia

Como falámos, as diferentes refeições (em diferentes horas do dia) exigem soluções específicas. Ao pequeno-almoço pretendemos ter uma “brightlight”, ou seja, que nos faça despertar ou permita ler o jornal. É utilizada maioritariamente em pastelarias e cafetarias e pode ser conseguida através de luz natural ou luminárias de elevado fluxo luminoso.

Normalmente o almoço requer uma luz moderada. E, se a intenção é a rotatividade, há que selecionar uma luz mais “desconfortável”.

Ao jantar, procura-se uma atmosfera mais relaxada, de final de dia. Os clientes têm mais tempo e, por isso, podem e querem permanecer mais tempo no espaço.

Iluminação exterior

O projeto para a iluminação no exterior do estabelecimento também deve ser tido em conta, de forma a conseguir sinalizar e iluminar o espaço e garantir a sua segurança (e dos seus clientes).

Em primeiro lugar há que criar um foco na entrada, para que o acesso seja o mais facilitado possível. Mas se o objetivo for que o próprio espaço chame a atenção, será necessário um projeto completo de iluminação exterior.

No caso de ter esplanada e de funcionar em período noturno, é mais uma área sobre a qual planear. Para saber mais sobre este aspeto, sugerimos que consulte o artigo Iluminação exterior: o jardim fora de horas!

Aproveitamos ainda para dar a sugestão de considerar o smart lighting. Como a utilização do shut-off automático, sinalização, sensores de luz do dia, temporizadores, dimmers e outros gadgets, como o controlador FIVE, que permitirão customizar e automatizar a iluminação, permitindo poupar tempo e dinheiro.

Rita Valente
Arquiteta